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“VOZES SILENCIADAS, PODERES REVELADOS”


Como o Judiciário Brasileiro redefine a reputação dos que falam, e dos que calam.


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Em outubro de 2025, uma reportagem internacional apontou que o Brasil havia se tornado o único país democrático em que o Judiciário assumiu, de forma unilateral, o poder de impor regras sobre o que pode, ou não, ser dito nas redes sociais. O debate público passou a ser tratado como matéria de jurisdição, inaugurando um novo patamar de tutela institucional sobre a reputação de cidadãos, empresas e agentes públicos.


Nas últimas semanas, porém, esse cenário se intensificou. Decisões envolvendo bloqueio de conteúdos, suspensão de perfis e intervenção direta no fluxo de informações reacenderam uma pergunta incômoda: o país está diante de uma reorganização silenciosa do poder sobre a palavra?


A ampliação da tutela judicial sobre o discurso público, algo raríssimo em democracias maduras, desloca a disputa política e institucional para um território mais profundo: a reputação.Não se trata mais apenas de “coibir excessos” ou “proteger a sociedade”.


Trata-se de definir quem pode falar, como pode falar, e até onde pode existir no debate público.


O efeito não é apenas jurídico, é psicológico, simbólico e estratégico. Quando a fala passa a ser filtrada por instâncias superiores, não é apenas o conteúdo que se torna alvo: é a legitimidade de quem o produz. E nisso, reputação e poder entram em colisão direta.


Especialistas em comunicação e análise institucional afirmam que essa nova configuração de controle exige três movimentos imediatos por parte de qualquer ator público ou privado que dependa de credibilidade: visibilidade ativa, para não permitir que a narrativa seja ditada por terceiros, reputação resiliente, capaz de resistir ao apagamento institucional e à instabilidade discursiva, e inteligência de arena, para compreender quem delimita o que pode ser dito, quem filtra o debate e como reputações vêm sendo usadas como moeda política, jurídica e social.


Quando o Judiciário, ou qualquer poder constituído, passa a assumir protagonismo sobre a fala e a reputação dos outros, uma mensagem involuntária é transmitida: o poder instituído não confia na própria força. O medo de reputações livres, plurais e concorrentes revela fragilidades internas muito maiores do que aquelas que se tenta censurar.


A consequência é clara: cria-se um ambiente em que falar se torna risco, calar se torna estratégia, e existir publicamente passa a depender de filtros que ninguém elegeu. É nesse vácuo, entre o silêncio imposto e o discurso permitido, que se define o novo tabuleiro reputacional do país.


A disputa agora não é apenas sobre o que é dito, mas sobre quem tem autorização implícita para continuar dizendo. E essa é, talvez, a mudança mais profunda e menos admitida do cenário atual.


A verdade continua existindo,O que mudou foi quem pode carregá-la sem ser interrompido.

 

Douglas Presibella – Assessor de Imprensa e Estrategista de Reputação Política e Parlamentar.

🛜@imprensa.cwb

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