“O churrasco de verdade está morrendo?”
- Jornal do Juveve
- há 2 horas
- 2 min de leitura
Especialista aponta que tendências gourmet estão destruindo a essência da carne.

Curitiba assiste a uma transformação silenciosa no universo gastronômico. Enquanto influenciadores e casas recém-inauguradas apostam em técnicas gourmet, cortes experimentais e apresentações estilizadas, especialistas tradicionais afirmam que boa parte dessas tendências está descaracterizando o verdadeiro churrasco brasileiro, aquele pautado em simplicidade, fogo, ponto correto e respeito pelo corte. Segundo o proprietário da “Churrascaria Casa do Zé”, Sebastião Pedroso, que é especialista há anos no setor, essa mudança não apenas altera o sabor, mas compromete a identidade cultural do prato.
A leitura técnica do mercado aponta que a disputa não é apenas culinária, mas também narrativa: de um lado, a gastronomia de espetáculo, criada para gerar a disseminação rápida e em larga escala de conteúdo online e alimentar redes sociais; de outro, estabelecimentos tradicionais denunciando que esse movimento afasta o consumidor da essência da carne, substituindo técnica por aparência e autenticidade por marketing. Internamente, o setor reconhece que cortes clássicos têm sido abandonados a favor de opções “instagramáveis”, enquanto métodos de preparo acelerados, com chama alta e pouca técnica, reduzem drasticamente a qualidade sensorial. Ao mesmo tempo, marinadas pesadas escondem falhas no produto, e fornecedores oportunistas se aproveitam da estética gourmet para vender carne inferior como se fosse premium. O fenômeno é alimentado pela influência direta de criadores de conteúdo sem domínio técnico, pela proliferação de restaurantes que priorizam estética sobre qualidade real e por uma cadeia de fornecedores que lucra empurrando ao público cortes inferiores embalados como experiências sofisticadas.
“Há muita maquiagem gastronômica acontecendo”, afirma a direção da Casa do Zé. “Boa parte desse ‘gourmetismo’ destruiu o churrasco. Estão maquiando técnica ruim com apresentações bonitas. É carne maltratada disfarçada de espetacular, e o consumidor paga o preço sem perceber.” A casa critica a normalização de práticas que escondem falhas graves: “Nós vemos pessoas pagando caro por carne sem procedência, por métodos errados e por modismos que não respeitam nem o fogo nem a história. Isso não é evolução gastronômica. É oportunismo.” Para o especialista, a diferença entre o churrasco real e o churrasco de palco está justamente na honestidade com o produto: “Enquanto alguns estão preocupados com likes, nós estamos preocupados com o sabor. Churrasco não é teatro. É técnica, é respeito pelo produto e a cultura.”
Diante deste cenário, podemos concluir que a importância de recuperar fundamentos básicos: fogo correto, ponto real, carne de procedência, simplicidade técnica e respeito ao sabor original é sim a parte premium do negócio. A pergunta que fica, e que reacende o debate no setor, é direta e incômoda: o churrasco está evoluindo ou sendo destruído?
Douglas Presibella – Assessor de Imprensa e Estrategista de Reputação / @imprensa.cwb
