Em 1825 Curitiba se contou: 12 mil habitantes, poucos recursos e vida provinciana
- Jornal do Juveve
- 24 de ago.
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Texto: Guilherme Voitch
Secretaria Municipal da Comunicação Social (Secom)

Há 200 anos, Curitiba foi contar os seus. Ouvidores e párocos bateram de porta em porta por toda a Vila de Curitiba, incluindo as freguesias de São José, Palmeira, Campo Largo, Iguaçu (Tindiquera) e Votuverava. Eles questionavam os donos das casas sobre sexo, idade, cor e ocupação social dos moradores. Também eram aferidas questões sobre casamentos, nascimentos e óbitos.
Como resultado, as autoridades da cidade elaboraram o “Mapa dos Habitantes do Corpo de Ordenanças da Vila de Curitiba e seu Distrito de 1825”. O documento mostrava que a Vila de Curitiba tinha então 12.514 habitantes, pouco mais que a população atual das Mercês. Esses moradores se dividiam entre o pequeno conglomerado urbano, nas proximidades da Praça Tiradentes, onde a cidade nasceu, e os distritos, que hoje correspondem a municípios como São José dos Pinhais, Araucária e Rio Branco do Sul.
Josés e Marias
Inserida no sistema escravagista que vigorava no Brasil, a Vila de Curitiba tinha então 1.578 escravizados, 12,6% da população. O número era inferior ao registrado em outras cidades brasileiras. Estima-se, por exemplo, que no Rio de Janeiro, capital do Império, o percentual de escravizados chegava a 40% da população.
Entre a população livre de Curitiba, havia mais mulheres (5.806) do que homens (5.129) e predominava a presença de jovens. Cerca de 60% da população (6.467 pessoas) tinha entre 0 e 19 anos - de acordo censo de 2022, atualmente são 22,5% nessa faixa etária. Apenas 4% (436 pessoas) tinham mais de 60 anos - hoje representam 18,13%.
Dez anos antes, em 1815, uma pesquisa semelhante foi realizada na cidade. Imprecisões estatísticas à parte, a proximidade dos levantamentos permite comparar os números e entender os rumos que Curitiba tomava.
A população livre havia crescido, passando de 7.550 para 10.936 pessoas. A população escravizada também aumentou levemente, de 1.512 para 1.578, embora sua participação no total de moradores da cidade tenha diminuído. Essa queda percentual de escravizados seria constante e gradativa ao longo do século 19, resultado, segundo historiadores, da atração exercida por fazendas de café mais lucrativas em outros locais, como o interior de São Paulo.
Humilde e provinciana
Apesar do crescimento da população, Curitiba era ainda uma cidade muito humilde e provinciana, mesmo para os padrões da época.
As condições de vida dos curitibanos não eram fáceis, conforme descreve Renato Mocellin, em “História Concisa de Curitiba”: “Em 1806 uma epidemia de ‘cãimbra de sangue’ (diarreia) assolou a vila. No ano de 1809, o inverno foi rigoroso provocando uma grande escassez de víveres; além da subnutrição, uma epidemia de ‘chaga sarnosa’ atingiu os curitibanos. Em 1818, a varíola fez muitas vítimas, o mesmo acontecendo em 1831 e em 1838”.
Os relatos da viagem do naturalista e explorador francês Saint-Hilaire, que passou pela Curitiba em 1820, ilustram bem o cenário socioeconômico da época.
A falta de dinheiro parecia generalizada. Em “Terra e Gente do Paraná”, o historiador Romário Martins lembra que entre 1821 e 1825 a Câmara Municipal, que na época acumulava também funções administrativas na cidade, sequer conseguia pagar o salário de um mestre régio das primeiras letras. O mestre régio era uma espécie de professor primário, responsável pela instrução das crianças.
Registros históricos da Câmara Municipal de Curitiba mostram que, em março de 1825, a Câmara solicitava parecer da Junta da Fazenda sobre “rendeiros” que se negavam a pagar impostos. Os rendeiros eram pessoas que usavam terras arrendadas. A própria Câmara não conseguia construir uma sede própria e utilizava prédios alugados.
Fonte: PMC
Foto: Jean-Baptiste Debret, que retrata a cidade vista do Alto São Francisco, incluindo a construção da Igreja de São Francisco de Paula.
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