A Coluna Vida Plena Psi inova ao trazer um texto escrito em parceria com Ana Sofia Costa Cordeiro, graduada em Psicologia pela ISPA - Instituto Superior de Psicologia Aplicada em Lisboa/Portugal e mestranda em Psicologia Clínica pela mesma instituição. Com formação também em História da Arte pela Universidade Nova de Lisboa, e com o olhar sensível do meio artístico, veio para agregar conhecimento ao importante tema.
Nitidamente, os tempos mudaram, visto que em décadas passadas era comum as mulheres abrirem mão de uma profissão para o desempenho exclusivo da maternidade e cuidados do lar. O marido era o único provedor e tal fato não causava estranheza, pelo contrário, havia uma certa satisfação em acompanhar os filhos no seu desenvolvimento e em estar sempre presente.
O ingresso da criança na escola ocorria já próximo aos seis anos de idade, estando até então somente aos cuidados restritos da família. Com o tempo perceberam-se mudanças significativas no sentido do ingresso da criança cada vez mais precocemente na creche e pré escola e intensificou-se a presença da mulher no mercado de trabalho.
Os motivos para essa mudança vão de encontro a busca por satisfação profissional, a mulher passou a almejar trabalho, renda e realização. Havendo também aquelas que vão em busca do apoio financeiro, sendo muitas vezes o único sustento da família.
Se por um lado a satisfação em ter profissão, trabalho e renda foi sendo suprida, por outro surgiu a dificuldade em equilibrar esses papéis, visto que no caso da mulher há um acúmulo com as tarefas do lar e a importante função de ser mãe, que nem sempre vem acompanhada da necessária rede de apoio e da privilegiada situação financeira para arcar com os custos que a maternidade envolve.
Mas enquanto mudam as práticas, as mentalidades são mais difíceis de alterar. Muitas mulheres ainda se auto-culpabilizam por não desempenhar os diversos papéis que acumulam de forma exemplar, o que, por vezes, origina o abandono da carreira profissional após o nascimento dos filhos.
Sendo assim, dois é bom, três é demais, mas não para quem acumula vários papéis em simultâneo. Se a Mulher Maravilha é um personagem de ficção, então porque será que existe uma pressão da sociedade que é sentida pelas mulheres para desempenhar este papel, com o prejuízo de serem vistas como fracas e incapazes caso não o façam?
E quanto a ser simplesmente mulher? A sermos nós mesmas? Será que você pode ser a mãe perfeita e uma profissional excepcional sem ter tempo para si própria? Vamos relembrar um importante tema de algumas publicações atrás, ao qual esta parte remete - o autocuidado.
Se é desejo da mulher acumular vários papéis, é importante que tenha presente as suas limitações e que reconheça a sua força ao admiti-las. Desempenhar diversos papéis pode ser exaustivo fisicamente e drenante psicologicamente, então é fundamental tirar um tempo para si.
O impacto físico e emocional que representa ser mulher, mãe e profissional pode acarretar vários problemas de saúde mental, sendo os mais comuns a depressão e ansiedade, na tentativa de corresponder à visão idealizada da “mulher maravilha”.
Atualmente vemos o surgimento do chamado Mommy Burnout (síndrome do esgotamento materno), ainda não reconhecido pelo DSM, mas que surge da pressão excessiva provocada pelo desempenho de diversos papéis da parte da mulher que é mãe, e que provoca uma sobrecarga física e psicológica que leva ao esgotamento. Os sintomas incluem exaustão física e/ou psicológica, elevada irritabilidade, sentimentos de culpa devido a comportamentos inadequados com os filhos, isolamento e desconexão com os outros especialmente os filhos, episódios de raiva (o famoso “pavio curto”), incapacidade de cuidar de si, entre muitos outros.
Quanto a este tema não existe receita de bolo, tal como não existem mulheres perfeitas, mães exemplares ou profissionais irrepreensíveis. Não é uma questão de escolha, é um dilema com que somos confrontadas e que nos obriga a fazer escolhas. Equilibrar ou não vários papéis não é uma questão de ser ou não bem sucedida em tudo, mas sim definir prioridades, respeitar a si mesma e o seu tempo, e estar pronta para novas oportunidades e desafios, sem deixar que outros tomem decisões que afetam a nossa vida e a nossa felicidade.
Obviamente, este tema proporciona uma fonte rica e inesgotável de discussão, debate e opiniões diversas. O nosso objetivo foi deixar alguns fatos, pensamentos, consequências e acima de tudo, esperança, considerando um ponto de vista psicológico, ainda que muito resumido. Caso deseje saber mais e dar continuidade ao tema proposto, deixe sua opinião nos comentários.
Obrigada por acompanhar o Jornal do Juvevê e a coluna de Psicologia Vida Plena Psi, até a próxima.
Ana Sofia Costa Cordeiro
Mestranda em Psicologia Clínica
anasofiacordeiro1@gmail.com
@anasofiacostacordeiro
Cláudia Ducci Hartmann
Psicóloga CRP 08/37672
duccihartmann@gmail.com
@psi.claudiaducci
Fontes:
A modernidade em função de novas profissões que serviam muito bem ao lado das mulheres elas foram sendo conduzidas a uma gama muito grande de atividades bem apropriadas a elas. É notório que ter filhos poderia ser um impedimento para tornar ser profissional completa auxiliando na questão da renda familiar é claro por outro lado que existe o lado da mulher procurar realização e sucesso profissional, mas sem se descuidar da vida familiar...
Saber encontrar o ponto de equilíbrio é uma tarefa árdua e longa. E ige autoconhecimento e muitas vezes abdicação. Mas tudo vale a pena quando o amor é o ponto principal de nossa busca.