MARÇO-MÊS INTERNACIONAL DA MULHER
- Jornal do Juveve
- 24 de mar.
- 3 min de leitura
Mulheres guerreiras
Elas têm o poder de matar um leão por dia, criam seus filhos praticamente sozinhas e cuidam da casa e do trabalho.
E neste mês você irá conhecer a história de algumas delas

“Comecei a namorar aos 15 anos e fui mãe aos 18 — por pouco não aos 17, já que faço aniversário em 25/04 e meu filho nasceu em 29/04. Sou PCD, não tenho o antebraço direito. Na época, dividia meus dias entre estágio e aula, estava no ensino médio.
Desde cedo, sempre quis estudar. Via minha mãe, costureira, e meu pai, pedreiro, trabalhando duro, e sabia que queria algo diferente. Por isso, no início da gestação não foi fácil. Lembro-me de um dia, depois da aula, em que fiquei chorando com a cabeça abaixada sobre a carteira. Uma professora se aproximou, disse que tudo daria certo e, mais tarde, me enviou um texto lindo. Aquele gesto ficou marcado.
A jornada da maternidade foi solitária desde o início. Fui às consultas sozinhas. Fiz ultrassom sozinha. O pai do meu filho não quis estar presente nem no parto. Nosso relacionamento terminou quando o meu filho tinha apenas três meses de vida.
Enquanto mulher enfrentei preconceito. Enquanto jovem, enfrentei preconceito. Enquanto PCD enfrentei preconceito. Enquanto mãe solo enfrentei preconceito.
Houve momentos difíceis. Lembro-me de um episódio no shopping, enquanto esperava uma amiga sair do banheiro. Meu filho, ainda bebê, começou a chorar de cólica. Uma mulher desconhecida se aproximou e, sem perguntar, pegou ele do meu colo e começou a balançar. Ele chorou ainda mais. Imagino que, na cabeça dela, aquilo fosse uma ajuda a uma jovem mãe PCD. Mas, para mim, foi um julgamento. Uma suposição de que eu era incapaz.
Felizmente, nunca estive sozinha. Minha mãe e minha irmã foram fundamentais. Quando eu não podia, eram elas que levavam meu filho às consultas, buscavam na creche e até me ajudavam financeiramente. Porque, mesmo levando uma vida simples, os gastos com uma criança são altos.
O pai dele se casou e, pela esposa, ele passou a ter alguns momentos de participação — levando o meu filho a consultas, buscando na creche e pagando pensão. Mas nunca além do mínimo exigido. Durante anos, os valores foram aumentando lentamente: R$ 250, depois R$ 300, R$ 375 e, por fim, R$ 400. Até o divórcio deles, quando o meu filho tinha 10 anos. Depois disso, o contato cessou. E me pergunto se fiz bem em permitir essa convivência temporária.
O meu filho precisou ir pra creche desde os seis meses, porque eu precisava terminar o ensino médio que por ser técnico tinha um ano a mais.
Durante os primeiros meses do meu filho a escola entregava trabalhos e material com o conteúdo para uma colega que trazia para mim.
Depois disso comecei a trabalhar, morava longe do trabalho e, muitas vezes, cheguei atrasada ou precisei sair mais cedo. Só quem tem filho pequeno em creche sabe o dilema de pedir para sair todo dia porque a criança está resfriada, com febre, dor de barriga. Tive sorte de contar com um chefe compreensivo na época.
Com o tempo, consegui pagar uma pessoa para levar e buscar meu filho na creche. Melhorou a nossa rotina e os resfriados diminuíram, já que, até então, caminhávamos cerca de 900 metros todos os dias, enfrentando sol e chuva. Mas, mesmo sendo uma conhecida da família, sempre havia insegurança e culpa por não ser eu, minha mãe ou minha irmã a cuidar dele.
Com apoio, consegui me formar em Ciências Contábeis quando meu filho tinha seis anos. No mesmo ano, conquistei uma vaga em uma das quatro maiores empresas de auditoria externa do mundo.
Mas essa escolha teve um custo. Quando o meu filho tinha apenas dois anos, passei a trabalhar durante o dia e estudar à noite. Perdi muito tempo ao lado dele. Acreditei que o sacrifício valeria a pena. E valeu. Hoje, consigo sustentar nossa casa sozinha. Mas, sempre que vejo fotos daquele pequeno, o peso da culpa me encontra.
Criar um filho, especialmente sem o pai, é sobre ter com quem contar.” Tatiany R. Santos
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