MARÇO-MÊS INTERNACIONAL DA MULHER
- Jornal do Juveve
- 13 de mar.
- 4 min de leitura
Elas têm o poder de matar um leão por dia, criam seus filhos praticamente sozinhas e cuidam da casa e do trabalho.
E neste mês você irá conhecer a história de algumas delas

“Primeiramente, quero dizer que não sou mais solteira, eu namorei com o pai das minhas filhas por dois anos, casei no cartório e no religioso tudo certinho e fiquei casada por oito anos. Só me separei devido uma traição da parte dele, eu que pedi o divórcio após descobrir a traição.
Sou daqui de Curitiba, me casei em 1994, e fui morar em Manaus, cidade do meu ex, larguei tudo aqui, minha família, emprego, amigos e fui embora. Depois de seis anos de casados eu engravidei de gêmeas, devido à gravidez de risco vim para Curitiba para ter minhas filhas. As meninas nasceram prematuras, devido a isso acabei ficando aqui até completarem cinco meses, até receberem alta dos médicos para poder viajar de avião. Quando voltei para Manaus, eu descobri a traição, só fiquei um ano lá, quando me separei as meninas tinham um ano e quatro meses, e voltei para Curitiba com elas, criei sozinha e hoje já vão completar 24 anos, estão no último ano da faculdade.
Realmente não foi nada fácil cuidar de duas crianças sozinhas, eu fiquei com elas até completarem 5 anos , até este período recebia pensão. Fui trabalhar difícil para conseguir emprego com duas crianças pequenas e sozinha.
Só consegui o emprego porque foi indicação. Era muito difícil trabalhar o dia todo, deixar las uma parte do dia com minha mãe, e outra parte ia para escola e a noite chegar cansada e ter que ajudar a fazer tarefas e outros afazeres. Ter que levar no médico, na escola e ainda cuidar da casa, tudo sozinha.
Passei por dificuldades financeiras, quando o pai das meninas deixou de pagar pensão. Depois de um tempo do primeiro emprego recebi uma proposta melhor, fui ser gerente, mas trabalhava muito até 10horas por dia e depois de um dia difícil de trabalho, ter que ser pai e mãe. Depois de quase sete anos nessa empresa fui demitida, aí novamente mais dificuldades financeiras, pois tive que cortar muitas coisas que as meninas tinham.
Comecei a trabalhar em 2015, com um carro de churros, crepes e pastel, vendia nas ruas, nas escolas, e depois de quatro anos ,na correria onde cansei de amanhecer na rua vendendo por aí sozinha em porta de shows eu consegui minha licença no zoológico, onde trabalho até hoje. Muitas vezes somente comprando o básico para casa, para ter dinheiro para comprar mercadoria para poder fazer mais dinheiro, quantas vezes ter que sair correndo de onde estava vendendo, para buscar minhas filhas, na escola, hoje na faculdade, para não deixar elas andarem sozinhas na rua a noite.
Eu vivi minha vida em função delas, só trabalhando e cuidando delas, nunca as deixei para sair para lá e para cá, pois já não tinham a presença do pai, e ainda eu deixar elas largadas não dá, realmente é preciso ter muita fé, coragem e força para suportar e dar conta do recado.
Apoio mesmo só tive da minha família, meus pais e irmãos, pois minha mãe cuidava delas meio período, e depois elas iam para escola enquanto eu estava trabalhando. Meus irmãos também, quando podiam me ajudavam a levar e buscar na escola. Minha família me ajudou muito, enquanto o pai das meninas mesmo morando aqui nunca ajudou em nada, nem se quer ligou alguma vez para saber se precisam de alguma coisa, ninguém da família dele nunca ninguém se importou, nem sabem se as meninas estão vivas ou mortas. Teve pandemia eu não tinha onde trabalhar, pois como trabalho com comidas, eventos tudo parado, nem assim se manifestaram.
Com certeza é possível! Sou testemunha disso! Mas só eu sei o quanto foi difícil, realmente tem que ser muito forte, determinada, paciente e não ter medo de encarar as situações e principalmente saber colocar limites para as crianças. Pois com uma criança já é difícil, imagina com duas! Tem que saber dizer não nas horas certas, e depois de dizer não, não se deve recuar, pois muitas vezes é doloroso dizer não para seu filho, mas lá na frente isso vai fazer uma grande diferença na vida deles.
Não podemos maltratar nossos filhos, mais temos que saber educa-los temos que saber prepara-los para a vida, para o mundo, pois não vamos estar aqui para sempre.
Minhas filhas são muito educadas, me respeitam são trabalhadeiras, elas são meu orgulho, minha razão de viver! Hoje olho para trás, e realmente vejo que tudo valeu a pena.
É lamentável, mais infelizmente o preconceito existe, imagina há 22 anos era muito pior, ainda mais que vim de uma família extremamente conservadora. Ouvi muitas coisas que realmente me magoaram muito, pois diante de toda situação que estava passando, sozinha com as duas crianças, ainda ter que ouvir comentários maldosos.
Nossa porque seu marido largou você! O que será dessas meninas, que vão ser criadas sem o pai! Essa aí logo vai cair em depressão, e vai empurrar as crianças para mãe cuidar! Ouvi tudo isso e outras coisas mais. Mas com a Graça de Deus, com muito juízo, determinação e seriedade eu não tive tempo para depressão, eu foquei nas minhas filhas e no meu trabalho e juntas vencemos, e estamos aí para dar exemplo para muitas mulheres que ficam suportando muitas situações desagradáveis, as vezes por se preocuparem com o que os outros tão pensando! Eu nunca me importei com o quê os outros estão pensando, pois esses outros aí não vão resolver meus problemas e nem pagar minhas contas. Para esses aí que me criticaram, duvidaram da minha capacidade, tai a prova ; eu venci!
Criei minhas filhas sem pai sim, e são pessoas responsáveis e bem educadas.”
Ana Isabel Bertholazo
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