Jornal do Juvevê
Falecido paga a conta

Pedir fiado, mandar marcar, não agrada ao Dionísio, não agrada a nenhum dono de bar.
Com o Dionísio:
-Vou pagar amanhã.
-Então bebe amanhã!
Mas tem aqueles que ganham sua confiança, que tem (ou tinham) seus vencimentos periodicamente semanais ou quinzenais e que dentro desses períodos quitavam seus débitos. Pelo menos havia, parece que hoje já não dá pra confiar em ninguém.
Aldo, pra lá de 80 anos, pequeno, magro, ainda trabalhando como pizzaiolo aqui perto. Vinha, tomava suas “beras” e quietinho ficava rindo de tudo e de todos. Daí o apelido, Risadinha.
Fazia uma fezinha no bicho, 116.
Risadinha adorava a costela cozida feita pela Beth e sempre que o prato era servido pedia uma porção: “Picadinha para comer no palito.”
Num pesaroso dia, após a costela, sofreu um infarto. Foi Dionísio quem o socorreu e o levou ao hospital onde já chegou morto.
O falecido, querido Risadinha, tinha um débito na casa. Claro, não faz sentido incomodar uma família enlutada para cobrar dívida de boteco.
Acontece que Risadinha, muito honesto, resolveu aparecer num sonho do Dionísio. Pediu desculpas por não ter tido tempo de pagar a conta e que se lembrasse das apostas que ele fazia na borboleta, 116.
Certo dia, na época das maquininhas caça níquel, Seu Luiz tinha uma mariposa que, volta e meia, vinha pousar em sua cabeça atrapalhando as jogadas. Dionísio viu a cena, o bicho* fez a ligação, e fez a aposta, 2116.
Não é que deu na cabeça!?
Aldo, o Risadinha, não deixou barato. Pagou a conta com juros e correção monetária. (correção monetária? Os mais jovens nem sabem o que é isso, mas se não cuidarem vão descobrir, que não seja da pior forma.).
Na época do “fio do bigode”... nem os falecidos deixavam fiado.
*Detalhes para “o bicho”:
Pode ser o jogo, dando um toque, sei lá;
Pode ser o Dio, na gíria, jogando;
Pode ser o Aldo;
Pode ser a mariposa;
O bicho tá solto... pode ser qualquer coisa.
Watson