Jornal do Juvevê
Dr. Daniel

Já aos 90 anos, chegava por volta das nove horas da manhã e pedia água de coco com uísque (perceba a ordem que indica a proporção), Proseava até a hora do almoço. Voltava às 13h30, outra água de coco, raramente consumia uma terceira dose.
De família humilde conseguiu ingressar na faculdade de direito aos 30 e poucos anos e logo foi diagnosticado com tuberculose, o que atrasou sua formatura. Naquela época os tratamentos da doença eram precários.
Acabou se formando aos 40 anos e na segunda vida, como ele afirmava, contando a partir da doença, concorreu a vaga de promotor público e foi bem sucedido. Seguiu na carreira até a aposentadoria e veio frequentar o boteco ”para não passar o dia todo brigando com a mulher”. (sei lá se isso é verdade)
Dr. Daniel era o aconselhador, conversava com calma, ouvia as queixas e aconselhava, sempre comedido, a qualquer um sem distinção. Em suas palavras calmas: “Tem que respeitar todo mundo, todos tem seu valor, esses meninos de rua reciclam nosso lixo, eles tem valor.”
Dionísio admite que às vezes contrário ao que o Doutor dizia, acabava reconhecendo e acatando as manifestações do mais velho.
Ajudou muita gente, era prosa fácil, acolhedor, gentil. Também fez a passagem, que eu saiba bem resolvida porque não tem nenhuma visagem, causo “post Mortem” associado a ele. Só a lembrança dos que com ele conviveram.
Ah! Lembra das plaquinhas de bronze colocadas na parede? Uma delas é dedicada a ele. Quem mandou manufaturar foi Professor Arnoldo, amigo íntimo com quem passava horas de prosa. O Professor, polaco, alto, forte, bem mais novo que o Doutor, também já deixou este mundo. Antes de ir deixou a plaquinha de bronze ao bem da lembrança.
Watson