Por: Marcio Kieller
A política é algo que precisa de paciência para se entender, pois ela nos surpreende, quase sempre negativamente, a exemplo dos últimos anos. Mas claro que a política é sempre uma junção de ações que se organizam e desembocam em um resultado desejado, por alguém ou algum grupo político. E no caso do Brasil, a ações foram daqueles que queriam e querem um estado mínimo, à disposição da elite do dinheiro, sem os entraves burocráticos de um estado forte e com participação ativa na vida das pessoas, com a geração de políticas públicas que garantam renda e dignidade para todas e todos, mesmo que seja através da implementação de programas sociais, ações e políticas que são geradas com os impostos de todos que contribuem com a sociedade organizada através do aparelho de Estado.
Não. No Brasil observamos uma troca de valores que chega até à aceitação da inversão etimológica do valor das palavras, tais como: privar, que é o ato de impedir, de tirar algo de alguém. Ou seja, seu sentido etimológico é ruim, exclusivista, para não dizer elitista. Mas nos dias atuais com os meios de comunicação jogando a serviço de grandes grupos empresariais privados, faz-se com que as pessoas aceitem com a maior naturalidade, como se fosse uma coisa boa para toda a sociedade, o que não é verdade; pois privar é impedir que todas as pessoas pudessem e possam ter acesso aos benefícios e políticas de estado, por exemplo, das empresas estatais que têm função social, que é ajudar o estado a proporcionar o bem comum. E quando se privatiza uma estatal, o lucro passa a ser a prioridade do serviço ou empresa que foi privatizada. É colocar nas mãos de poucos o que deveria ser de todos, o que deveria ser público. E esses mesmos meios de comunicação desvirtuam a palavra público ou estatal, que significa pertencer a todos coletivamente e assim deveria ser regido, para o bem de todos cumprindo o seu papel social. Mas, mesmo assim, conseguem que a etimologia da palavra pública ou estatal seja vista como se fosse um mal.
Claro que isso tem uma explicação histórica no Brasil e esse debate volta ciclicamente à arena política de tempos em tempos, principalmente em anos eleitorais. Ou seja: nas discussões ideológicas. E neste sentido muitas vezes o próprio aparelho de estado cumpre um papel privatista. Pois coloca, principalmente as concessões públicas de comunicação, que são públicas e administradas pelo estado, mas estão em mãos privadas por causa das outorgas de concessão que são distribuídas a ”amigos” políticos. Esses veículos fazem o trabalho sujo daqueles que querem um estado pequeno, diminuto para possibilitar que a ganância e a avareza das elites possam correr soltas.
Essa é a lógica que prevalece nos dias de hoje. Após o golpe civil, parlamentar e institucional que foi dado na presidenta Dilma, arpeando do Palácio do Planalto uma mulher honrada e que nenhum crime cometeu, a não ser ter enfrentado, em nome do povo, uma elite de poderosos banqueiros, grandes empresários nacionais e internacionais. Tanto é assim, que mesmo sendo tirada do poder ela não sofreu nenhum tipo de sanção punitiva, seja criminal ou política, que geralmente são aplicadas a políticos que perdem seus mandatos por cassação, que é ficar inelegível por determinado período de tempo, quando não são presos pelos seus crimes. Pois, Dilma sofreu o impeachment pelas supostas pedaladas fiscais, mas não foi penalizada nem com a inelegibilidade ao ser cassada.
E o golpe de 2016 abriu espaço para que reinasse a lógica do Estado mínimo, em que o próprio Estado (leia-se governo) abriu mão da sua função social, que é equilibrar a vida em sociedade para que todos vivam bem, fazendo a opção por políticas de retirada de direitos, diminuição de benefício, para que os financiadores da política de estado mínimo lucrem mais e mais. Estamos vivendo tempos sombrios, pois além de estabelecer essa lógica de estado mínimo o desgoverno Bolsonaro também tenta se impor pelas formas mais antidemocráticas possíveis através do autoritarismo civil, pois desobedece ele próprio as regras do seu próprio governo, tais como: em meio a uma pandemia mundial de coronavírus, incentivar o não uso de máscaras pela população, além de ter uma posição negacionista, posição essa que dá para contar nos dedos das mãos os países que seguem, ou seguiram essa postura, a exemplo do EUA do ex-presidente Donald Trump.
Por outro lado, o desgoverno Bolsonaro desmontou a estrutura do estado político brasileiro, pois o mercado exigiu isso. Esse desmonte já vem desde que assumiu o ilegítimo presidente Michel Temer, que teve o apoio do mercado para iniciar as reformas políticas que Bolsonaro aprofundou com a promessa de apoio por sua eleição, com a ajuda do bloco político denominado Centrão que define maioria nas discussões do Congresso Nacional, mas que não representa as demandas e a vontade do povo Brasileiro. E nesta toada passaram as terceirizações sem limite, passaram as reformas trabalhista e da previdência. Como disse o ministro da economia deste desgoverno, Paulo Guedes: “Vamos lá, damos um abraço neles e quando não eles menos esperam colocamos a bomba no bolso deles.”
Ou seja, afirma que age conforme a vontade do “deus” mercado, sem respeito nenhum pelos servidores públicos e pela classe trabalhadora, enxugando todas as estruturas, desmontando sistemas importantes como o Sistema Único de Saúde, o SUS. Acabando com os acordos políticos de valorização do salário mínimo, feito entre os governos democráticos e populares e as Centrais Sindicais, acabando ou descontinuando todas as esferas democráticas de participação política.
Precisamos romper com esses retrocessos sociais que aconteceram em todas as áreas de atuação sociais durante esse desgoverno Bolsonaro. Precisamos caminhar novamente em busca de um tempo de esperança e luz para todas e todos e não somente para um pequeno grupo da elite política brasileira. É preciso dar de volta a possibilidade a todo o povo de fazer todos os dias três refeições, é preciso devolver à dignidade às pessoas que estão moralmente, socialmente e economicamente humilhadas pela prevalência da política do estado mínimo que o atual desgoverno defende. Ou melhor, política para a qual ele foi financiado pelo mercado para implementar e vem implementando da forma mais vil e cruel possível. Hoje o desgoverno Bolsonaro só tem ao seu lado os grandes grupos exportadores, que são os únicos que lucram com o dólar nas alturas como consequência direta da política de Paulo Guedes, inclusive ele próprio lucra muito com sua empresa offshore.
O próximo período de discussão social que teremos com a chegada do ano eleitoral vai nos permitir lutar pela dignidade do povo. O nosso eterno presidente Lula, no cenário tem condições objetivas de ganhar as eleições presidenciais e fazer com que nosso povo sorria de novo. Que possa voltar a se alimentar três vezes por dias. Que posso voltar a ter esperança no seu futuro e dos seus, com qualidade de vida e dignidade. Porque o presidente Lula quando governou, governou para todos, e não só para os mais pobres, porque sabia que se não houvesse o diálogo democrático, os golpistas e oportunistas de plantão poderiam colocar suas garras de fora novamente!
O Brasil venceu a ditadura e estabeleceu uma ainda frágil democracia que foi violentada com um golpe civil e institucional de novo tipo de 2016, pois priva a organização, tira do jogo democráticos atores políticos que estão no jogo há muito tempo, organizados; e somente pela deslealdade de alguns capitalistas avarentos e gananciosos, esses atores democráticos são retirados da cena política para que um grupo mal intencionado e ligado aos piores grupos possíveis, a exemplo das milícias e das velhas oligarquias de nova roupagem, possam usurpar o poder. Mas daremos um sonoro basta a esses grupos! Porque a maioria do povo que irá às ruas nas eleições de 2022 ainda tem a clara diferença entre os governos democráticos e populares de Lula e Dilma e os desgovernos do estado mínimo de Temer e de Bolsonaro. Esses últimos governam para que poucos grandes empresários, banqueiros, industriais possam lucrar à vontade, sem pensar que o trabalho precisa ter função social, precisa dignificar, e não criar gigantescas hordas de desempregados para que os que estão empregados fiquem submissos a todo tipo de humilhação, retirada de direitos e achatamento de salários provocados pela desastrosa política econômica do desgoverno Bolsonaro, Paulo Guedes e seus patrocinadores. O exemplo é do “Auxílio Brasil”, política que não terá continuidade, como deixa bem claro em relação a isso, pois substitui uma que fora transformada em política de Estado, que era a Bolsa Família, pelo atual Auxílio Brasil, que será pago somente no ano que vêm que é ano eleitoral, depois terá que discutida novamente sua fórmula, porque não se sustenta, é apenas eleitoral.
Com certeza todo nosso empenho será necessário para eleger Lula e uma grande bancada de senadoras, senadores, deputadas e deputados federais. Pois ninguém entrega o poder ou o governo de graça. Vão tentar iludir novamente o povo, com falsas promessas. Vão colocar muito dinheiro nas eleições para impedir que o povo volte a ter vez em nosso país, mas a força da nossa organização fará com que tenhamos êxito e como resultado elejamos uma grande bancada no Congresso e o presidente Lula de novo para um tempo de esperança e luz para todas e todos!
Marcio Kieller
Presidente da CUT/PR e Mestre em Sociologia Política pela Universidade Federal do Paraná - UFPR
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